sábado, 21 de junho de 2014

Quantos votos vale um seguidor no Twitter?

Não é novidade que as redes sociais estão cada dia mais presentes nas campanhas eleitorais no Brasil e no mundo. Recentemente, a Carta Capital apresentou um trabalho de destaque sobre a rede social no Twitter dos três principais candidatos à presidência - Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) - que pode ser encontrado em Twitter: Qual o "poder" de Aécio, Dilma e Campos?. Nos EUA, o Twitter vem ganhando cada vez mais espaço nas campanhas eleitorais. Ainda em 2012, o New York Times definiu o Twitter como uma ferramenta essencial para campanhas eleitorais:
Com 100 milhões de usuários ativos, mais de 10 vezes que nas eleições de 2008, Twitter se tornou uma ferramenta essencial para campanhas eleitorais, permitindo que alcancem eleitores, recuperem informações e respondam imediatamente a acusações. (tradução livre)  
Fonte: The New Your Times - In Nonstop Whirlwind of Campaigns, Twitter Is a Critical Tool 
Entretanto, no Brasil, muitos candidatos ainda duvidam da eficácia da mídia social, como o Twitter e o Facebook. Dos 54 senadores eleitos em 2010, 49 (90,74%) possuem contas no Twitter e apenas 40 (74,07%) estão efetivamente utilizando suas contas (i.e., publicaram ao menos um tweet nos últimos 30 dias). Afinal, será mesmo que o resultado vale a pena? Será que o esforço e o investimento necessários para se utilizar essas novas mídias geram o retorno esperado? Aliás, o que se espera dessas mídias sociais?

Uma coisa é certa, o objetivo final de todo candidato é vencer a corrida eleitoral e, para isso, precisa de votos! Será que a mídia social realmente tem o poder de mídias tradicionais como rádio e TV? Será que é possível ganhar votos por meio da campanha em mídias sociais? Essas são perguntas válidas e que não são feitas apenas pelos candidatos brasileiros. Após a vitória do Barack Obama nas eleições de 2008, diversos jornalistas, estudiosos e cientistas políticos questionaram qual o impacto de sua intensiva campanha nas mídias sociais. James Lewin publicou uma matéria em que perguntava se a mídia social estava por trás do sucesso de Barack Obama (Is Social Media Behind Barack Obama’s Success?). Embora não seja possível afirmar categoricamente que a mídia social foi a responsável pela vitória de Obama, não há o que se questionar em relação à sua vitória esmagadora nessa mídia, como explicado por John Brandon em "Barack Obama vence a corrida na Web 2.0" (Barack Obama wins Web 2.0 race).

Com o objetivo de trazer essa realidade para o contexto político brasileiro, resolvemos, eu, Dr. Rommel N. Carvalho, Professor do Mestrado Profissional em Computação Aplicada da Universidade de Brasília (UnB) e membro do Grupo de Inteligência Artificial (GIA) da UnB desde 2001, e Fernando Santos, pesquisador da CAPES, ex-aluno da UnB e também membro do GIA, nos aliar para analisar se realmente há uma relação entre o número de seguidores dos candidatos e o número de votos obtidos. Para isso, buscamos as informações de votos obtidos pelos senadores eleitos em 2010 e de quantidade de seguidores no perfil de cada um deles. Considerando as informações daqueles que estão efetivamente utilizando suas contas, foi possível encontrar uma correlação positiva significante entre o número de seguidores e número de votos obtidos, como apresentado na figura abaixo*.


Por um lado, isso pode significar que a cada novo seguidor no Twitter, ganham-se aproximadamente 42 novos votos. Por outro lado, pode-se interpretar na via oposta, ou seja, que a cada 42 novos eleitores conquistados durante a campanha corpo a corpo, de ouvido a ouvido, um deles que possui acesso à Internet e uma conta no Twitter passa a seguir seu candidato. Na realidade, o mais provável é que seja uma mistura das duas alternativas. Alguns eleitores são conquistados nas campanhas virtuais, ao curtirem uma opinião expressa pelo candidato nas mídias sociais, e outros são reflexo das diversas atividades realizadas no mundo real, seja numa visita a um município do interior, seja numa conversa informal com o vizinho de poltrona na volta para a capital do estado.

A corrida eleitoral não se limita a propagandas eleitorais na rádio e na TV, mas também não basta fazer a campanha apenas corpo a corpo, afinal, dado o curto prazo das campanhas e a dimensão do nosso país, é impossível imaginar que todos os eleitores serão alcançados pessoalmente por cada candidato. Por isso a importância da comunicação em massa, proporcionada também pela Internet e pelas redes sociais. Uma das grandes vantagens das mídias sociais, além de abrir um novo canal de comunicação com os cidadãos, é a possibilidade de se estudar o comportamento de um extrato da sociedade, analisar os comentários que ficam gravados na história da Internet e tirar conclusões que podem auxiliar não apenas a campanha virtual como também a real.

Apesar do modelo matemático apresentado acima não ser complexo o suficiente para prever o resultado das eleições - pelo menos por enquanto -, ele mostra claramente que na medida em que se aumenta a quantidade de seguidores, o número de votos também cresce. Claro que estamos comparando o perfil de hoje com a quantidade de votos de 4 anos atrás. Ou seja, pode ser que o cenário para essas eleições seja um pouco diferente. No entanto, pense bem: você, candidato, está disposto a pagar pra ver e simplesmente ignorar esse incrível potencial das novas mídias?!

Esse é o primeiro post de muitos que virão. Nosso objetivo é mostrar todo potencial não só das mídias sociais, mas principalmente das informações que podem ser extraídas delas ao se usar de forma inteligente técnicas avançadas de Tecnologia da Informação e Estatística, como Mineração de Dados, Análise de Redes Sociais e Análise de Dados. Apresentaremos diversas análises e informações sobre temas mais discutidos pela sociedade, taxa de adesão de novos seguidores por candidato, pessoas de influência e impacto nas discussões virtuais sobre o tema, hashtags mais usadas, usuários mais retuitados, tweets mais quentes, entre outras. Contamos com a participação e a divulgação de vocês!
#eleicoesnasredessociais #eleicoes2014

Até breve!

* Os Senadores Cristovam Buarque e Cássio Cunha Lima, apesar de possuírem perfil no Twitter, foram removidos do cálculo e figura apresentados, pois possuem uma quantidade de seguidores muito maior que os outros Senadores, o que prejudica o uso de regressão linear simples.